sábado, 14 de abril de 2012

Igualdade descaracterizada...

Pais, alunos, professores e directores em uníssono contra mais uma (des)medida governamental. Este embuste criado pelo Ministério da Educação e Ciência, consubstanciado em estatísticas da OCDE, não é mais do que uma norma orçamental, silenciosa e «vagarosamente» imposta pelo Ministério das Finanças. Acredita o Ministério da Educação e Ciência que a qualidade das aprendizagens dos alunos é directamente proporcional ao aumento do número de alunos por turma? Ou será antes que, o Ministério das Finanças acredita que aumento do número de alunos por turma é directamente proporcional à redução do número de turmas e, portanto, também o número de professores?
Outra alteração anunciada é a possibilidade dos pais escolherem a escola que os filhos frequentarão. Parece inofensivo e ao encontro das preocupações dos Encarregados de Educação deste País, que no dever das suas funções procuram sempre o percurso escolar mais estimulante e adaptado às necessidades do seu educando, mas na prática, esta “possibilidade” contribuirá efectivamente para que sejam as escolas, na figura do seu Director refugiado em “critérios pedagógicos”, a admitir ou excluir os alunos da frequência do seu estabelecimento. Cria assim o Ministério da Educação e da Ciência a “possibilidade” das escolas oficiais escolherem alunos com base em resultados académicos e origem social, caminhando para as famigeradas turmas de elite (nível) e num futuro mais próximo do que se possa imaginar, escolas de elite. Mas o Ministério das Finanças, também aqui, tem uma palavra a dizer… salvaguarda o diploma que «caso o estabelecimento escolhido não seja na área de residência, as despesas que essa opção possa significar ficam por conta do encarregado de educação ou do aluno, desde que a escola da zona onde reside tenha o percurso formativo desejado.» Brilhante!
Certamente que vamos assistir às ditas turmas de elite, a nata da nata, os filhos dos senhores, os primos e amigos dos senhores e os filhos dos professores! Depois as turmas “ditas médias”, com o perfil de aluno predominante o do aluno com um ritmo de aprendizagem menor que a elite e onde preferencialmente serão trabalhadas as competências práticas e em contexto de trabalho, que futuramente integrarão a classe trabalhadora, aspirando quando muito a serem mão de obra especializada. Por último, as turmas que a “prata da casa” da classe docente jamais quererá leccionar, onde abundarão indivíduos com interesses divergentes dos escolares, sem competências sociais e com um conjunto de actividades ilícitas no currículo. Imaginem só trinta alunos do calibre dos últimos, numa sala de aula, com alguém a tentar leccionar seja aquilo que for, só me ocorre uma história da minha infância, Alibabá e os trinta Ladrões! Sim eu sei que são quarenta ladrões, mas é só uma questão de tempo até que alguém «vagarosamente» decida, para outro alguém anunciar que serão quarenta por turma…
Legitimar a segregação clássica, de forma dissimulada em turmas de uma pseudo elite ou simplesmente a aplicação natural de uma pedagogia diferenciada, atendendo às necessidades e interesses dos alunos, compreendendo-os em si mesmo e com diferentes ritmos de aquisição de aprendizagens e competências, portanto sujeitos idiossincráticos.
Assiste-se a esta discrepância entre as políticas educativas e a sua aplicabilidade prática nas escolas, provocada por quem, do alto da sua altivez e sapiência inatacável, tem dificuldade em “dobrar a espinha” e “sair do gabinete”, abrigando-se em tendências contraditórias, entre massificação e elitização em nome da excelência académica, contribuindo para aos diferentes posicionamentos ideológicos nas distintas comunidades educativas.

sexta-feira, 13 de abril de 2012

«Eu tenho direito à igualdade, quando a diferença me inferioriza. Eu tenho direito à diferença, quando a igualdade me descaracteriza.»


Boaventura Sousa Santos

quinta-feira, 12 de abril de 2012

Local Charm & authentic lifestyle (Finantial Times)

Local charm: town square in Aveiro in the north provides the undoubted appeal of an authentic lifestyle.

Assim é descrita a Cidade dos Canais no Finantial Times...

in Diário de Aveiro 12 abril

sexta-feira, 6 de abril de 2012

Afinal o que mudou?

No primeiro semestre de 2008, apreciando a corte socrática escrevia que “…Face à arrogante surdina ministerial instalada, desfilam nas ruas professores, militares e policias, empregados fabris e enfermeiros a contrato… pessoas reclamando saúde e sem comida no prato…” e agora a esta distância interrogo-me. Mas afinal o que mudou?
O meu País continua sem autonomia da união europeia, altamente subserviente á Troika, aos lóbis da economia paralela e do ouro negro e com um governo autista, que deixa quem dobrou a dívida da nação em seis anos, do alto da sua altivez e sapiência na arte do embuste, emigrar apostando num ano sabático a fim de juntar à sua orgulhosa licenciatura uma outra, desta vez em Ciências Políticas. Apesar da contrariedade de não poder realizar exames a outros dias que não os úteis e com a Faculdade aberta, situação para a qual não estava preparado, encontra-se empenhado a realizar a cadeira de Francês Técnico e uma dissertação filosófica intitulada de “só sei que nada sei”, que tão jeito tem dado para responder às convocatórias dos tribunais portugueses.
Mas regressando às ruas, juntaram-se aos primeiros os quadros superiores, médios e mão-de-obra especializada, recibos verdes e malta mal contratada! Os Funcionários Públicos, mal amados… caminham de braço dado com a “geração à rasca”, pensionistas e reformados. Descem a avenida da cada vez mais “pouca Liberdade”, uma amalgama de criaturas humildes que defendem a identidade, numa clara missão de defesa dos interesses da democracia, vetando a austeridade, o Fundo Monetário Internacional e a TROIKA.
Desfilam na classe ministerial mentirosos e mentiras, denominadas de imprecisões, inverdades e mais recentemente “LAPSOS”! Fantoches que «muito vagarosamente», subestimando a inteligência dos receptores, tentam explicar que o roubo dos subsídios só termina em 2015, que é ano de eleições e «imediatamente consecutivo a 2014», ano em que termina o programa de ajustamento. Não há limites para os sacrifícios da plebe, enquanto o poder e seus parasitas passeiam a 199 km/h nos carros de grande cilindrada do Estado (nossos) porque as multas até vão continuar a ser pagas pelo Estado (nós). Continuam os subsídios de reintegração para os compadres, alguns já receberam, outros recebem e muitos (quando acabarem os mandatos) irão receber. Telemóveis, ajudas de custo, subsídios de alimentação, alojamento e deslocação, as viagens, despesas de representação, “comissões” e “avenças”, empregos com vencimentos principescos conseguidos à custa do cargo/ função exercida, para eles, familiares e amigos, pró cão, gato e canário… justiça branda e a trabalhar ao retardatário.
O problema da crise económica só existe para quem não goza dos subterfúgios e ferramentas do poder, porque para os subservientes do sistema, o problema é tirar o maior partido dele! Cresce a tese da construção do inevitável e mais do que uma crise económica assiste-se neste País a uma crise de valores, ao colapso moral e à cegueira libertina em torno do que é socialmente correcto e do que é em prol do bem comum.
Foram à tomada de posse de Lambreta, mas rapidamente cederam às obstinações e encantos da alta cilindrada.
"Os políticos e as fraldas devem ser mudados frequentemente e pela mesma razão”.
Eça de Queiroz