Jogo de Basquetebol num célebre fim de tarde e… adensa-se o dilema!
Numa das muitas brincadeiras “Pais e filhos” da época, a jogar ao meu lado,
percebi que “ele” cruzou os braços, embaraçado. Eu tinha feito um figurão… ressalto
ganho e drible no chão, bola por trás das costas, mais uma revienga… e a
concorrência tinha ficado para trás! Estranhamente não me acompanhou, por mais
que o incentivasse não acompanhava o meu ritmo e eu esperava, evadido por um
pensamento: Lanço ou passo-lhe a bola?
Começo por balizar a minha
intervenção, sou Pai e sou Treinador. Não daqueles de bancada, estou mesmo no
campo com os meus jogadores! Esta condição qualifica-me apenas para refletir
sobre as minhas práticas, que não são boas nem más, são as minhas, ficando a
validade das mesmas dependente das diferentes “consciências práticas”.
Comecemos por referir que o papel
dos pais no desporto está mais ou menos delimitado entre o “útil” e o
“evitável”. Estarão os Clubes reféns do envolvimento dos Pais na atividade
desportiva dos seus filhos? Será que existe um grau ótimo de envolvimento e
comprometimento dos pais? E os filhos… será que gostam de ter os pais a
acompanhá-los de perto no desporto?
É um dado incontornável, a
influência crescente e o papel ativo que os Pais assumem nas Instituições
Desportivas onde os seus filhos praticam Atividade Física, quer por iniciativa
dos próprios, quer por necessidade da instituição. Assumindo o papel de
dirigentes, seccionistas e até motoristas, quando a sua atividade não é
devidamente enquadrada, em pouco tempo, procuram envolver-se em decisões fora
do seu domínio, “asfixiando” muitas vezes a autonomia dos seus filhos. A pressão
parental e o receio acerca das apreciações negativas, constitui uma das suas
principais fontes de constrangimento e é um dos problemas que mais lhes germinam
ansiedade. O tempo investido, os recursos gastos e as espectativas criadas em
torno da prática desportiva do jovem, contribuem, em casos extremos, a um
estado de esgotamento físico e mental, que a literatura especializada denomina
de “burnout”. Á medida que a pressão parental aumenta, a criança sente-se
sobrecarregada e refém do papel de atleta, podendo no futuro, conduzir ao
abandono precoce da prática desportiva.
Em sentido contrário, concorre o
envolvimento parental que não coloca pressão sobre supostas carreiras
desportivas, preocupando-se apenas com o bem-estar do jovem praticante e
procurando, com comportamentos positivos, contribuir para o aumento da
autoestima. A pergunta no final de um jogo deverá ser: Filho, divertiste-te?
Procurando reações afetivas e emocionais positivas sobre o que acabou de
acontecer, deixando as correções e o papel de treinador, para quem tem de o
desempenhar. Dar ênfase e importância ao esforço, ao prazer proporcionado pela prática
desportiva e não apenas à vitória.
A maioria dos pais tem um papel
relevante no contributo que dão para criar um ambiente agradável de prática
desportiva. Existe no entanto, uma pequena franja que grita muito com todos os
agentes do jogo, outros que apoiam incondicionalmente e são demasiado
positivos, há os que passam a vida a tirar notas sobre os desempenhos e os
pontos marcados, ainda os que vivem os seus sonhos através dos filhos e encaram
essa prática como se fossem eles os praticantes, os que estão tão ocupados com
as notícias dos jornais e a falar ao telefone e que não prestam atenção ao
desempenho dos filhos e por último, os que centram a sua atenção no esforço do
jovem e não no resultado do desempenho.
O envolvimento parental realista
sobre o rendimento desportivo, encoraja e apoia o esforço realizado pelos seus
filhos enquanto atletas, raramente responde com apreciações negativas perante
prestações desportivas menos boas e contribui para o aumento do prazer pela
prática desportiva, reduzindo os episódios de ansiedade. Não se sentir
confundido, envergonhado ou zangado com as derrotas do seu filho, transmitir
que, quer ele perca ou ganhe, continua a gostar dele e que não está desiludido
devido aos seus resultados desportivos, são premissas essenciais. Devem todos
os Pais revelar autocontrolo, ponderação e equilíbrio emocional nas competições
(ex. evitar gritar com os atletas, treinador ou dirigentes).
Termino como comecei: Lanço ou
passo-lhe a bola? é um dos dilemas
fundamentais que os pais têm muitas vezes de enfrentar. Não depositar as suas
espectativas nos ombros da criança e perceber onde está o limite do razoável na
relação com um filho desportista, é um desafio de aprendizagem e portanto,
demorado, que se "treina" e é feito de avanços e recuos.